O PT e o governo entraram no modo “caça às bruxas” para procurar os culpados pelo dólar a R$ 6. Enquanto a parte, digamos, primitiva do partido culpa as bruxas da Faria Lima pela sua sanha especulativa contra o Brasil, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que, como sabemos, come de garfo e faca, culpa “falhas na comunicação”.
Segundo Haddad, o mercado estressou porque a informação da isenção do IR “vazou” antes do anúncio, e não deu oportunidade para o ministro dar a sua versão da história. Bem, seria assim se fosse assim.
Verdade que houve muitos balões de ensaio durante as várias semanas de espera pelo “pacote”. Todos eles, que fique claro, plantados na imprensa por membros do governo. E, de fato, quando ficou claro que a isenção do IR faria parte das medidas anunciadas, o mercado estressou. Até aí, ok.
O problema é que os “esclarecimentos” do ministro durante a coletiva não conseguiram desestressar o mercado. Se o problema era o vazamento sem maiores explicações, as explicações do ministro deveriam ter algum efeito inverso. Nada. O que estava ruim, parece que piorou. E é isso que Haddad deveria se dedicar a entender.
São dois os problemas do ministro.
O primeiro é que ele promete o que está longe de poder entregar. Ele prometeu “neutralidade fiscal” para a isenção do IR, com a taxação do andar de cima. Mas o Congresso é uma fábrica de salsichas, o que vem dentro das leis aprovadas é sempre uma surpresa.
O segundo problema é o seu chefe. Esse era para ser um pacote de corte de gastos, em um momento em que o dólar beirava R$ 6 e o Tesouro encontrava-se em dificuldade para colocar mais dívida no mercado. O anúncio em conjunto da isenção do IR demonstrou que, no mínimo, Haddad não apita nada, e que a preocupação do governo Lula com o equilíbrio fiscal é apenas para farialimer ver.
Em resumo, o problema do ministro não foi de comunicação. O mercado entendeu direitinho a mensagem.
Por Marcelo Guterman. Engenheiro de Produção pela Escola Politécnica da USP e mestre em Economia e Finanças pelo Insper.