Lula, em sua verve característica, disse que não viu galinha alguma pedindo aumento pelo ovo. Portanto, deduz-se, a inflação do ovo deve estar em outro lugar da cadeia produtiva. Afinal, quem está botando o ovo da inflação?
Quem quer que seja, Lula prometeu “atitude mais drástica”, se não encontrar uma forma “pacífica” de resolver o problema. É guerra. Fica a cargo de cada um imaginar quais seriam essas “atitudes”.
Esse é um roteiro conhecido. Economistas heterodoxos, ligados ou não ao PT, insistem que o problema do déficit público é imaginário, que o Estado pode tudo porque suas finanças não funcionam como as finanças de uma família, que os juros praticados pelo BC são contraproducentes porque afetam a oferta e o nível da dívida pública. Em todas essas análises, a grande ausente é sempre a inflação. Tudo funcionaria maravilhosamente bem nesse mundo paralelo, a inflação sendo um não-problema.
Quando a inflação aparece (e ela sempre aparece), começa um frenesi de busca por culpados e “medidas” para atacar esses culpados. Medidas cada vez mais drásticas, como ameaça o presidente. O fato é que a PEC da gastança e o pagamento dos precatórios atrasados em 2023 inflou as velas da inflação em 2024. O único que não entregou o cardápio completo preconizado por esses economistas foi o BC, e por isso ainda temos uma inflação “razoavelmente sob controle”, como chegou a dizer o ministro da Fazenda. Fosse um BC mais dócil ao Planalto, estaríamos com uma inflação em outro patamar.
Para o PT e seus economistas, o crescimento econômico é resultado de esteroides ministrados às galinhas econômicas. Fazendo a rodinha do consumo girar, como gosta de dizer o presidente, a galinha cresceria e voaria como uma águia. Quando todos descobrem, horrorizados, que o único resultado desse tratamento é o ovo da inflação, saem todos correndo para buscar os culpados. Patético.
Por Marcelo Guterman*
*Marcelo é Engenheiro de Produção pela Escola Politécnica da USP e mestre em Economia e Finanças pelo Insper.
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