Dados do FMI e de cinco bancos e consultorias mostram que alta dos juros e gastos acima do teto reduzem crescimento do país
A economia brasileira deve se ver em posição nada invejável em 2022, pois terá o pior desempenho entre 12 grandes países emergentes, segundo compilação do jornal O Estado de S. Paulo e do Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) com dados do FMI (Fundo Monetário Internacional) e de cinco grandes consultorias e bancos. As expectativas de Bradesco, Goldman Sachs, Capital Economics, Fitch e Nomura vão de 0,8% a 1 9%.
Já o FMI vê avanço de 1,5%, contra média de 5,1% do mundo emergente.
Entre as nações analisadas, os piores desempenhos, após o brasileiro, são de África do Sul (2,2%) e Chile (2,5%).
Essas perspectivas, porém, podem ser consideradas até otimistas, pois a média das expectativas do economistas do relatório Focus, do Banco Central, está em 0,93% para o PIB. E já há bancos, como o Itaú, prevendo até retração de 0,5% no ano que vem.
Economista para emergentes da consultoria britânica Capital Economics, William Jackson diz que essas nações sofreram com a pandemia e a alta de inflação e juros. “Mas, no Brasil, tudo isso parece um pouco mais extremo”, afirma.
Jackson cita a exposição da economia brasileira ao consumo chinês e problemas estruturais sérios, como a fragilidade das contas públicas nacionais.
Juros
Enquanto o Brasil só faz subir a taxa Selic, na Ásia emergente, por exemplo, os bancos centrais têm conseguido segurar o ritmo de elevação nos juros por terem sentido menor impacto da inflação.
Para a coordenadora do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, Fabiana D’Atri, há frustração com as reformas e o eventual “furo” do teto de gastos. “O Brasil, relativamente, parece ter recuperação mais modesta”, diz, destacando ao menos um ponto positivo: “Temos recuperação importante no mercado de trabalho.”
Ministro defendeu moderação de excessos para garantir recuperação
Apesar de ruídos provocados pelas expectativas em torno das eleições de 2022, o Brasil não está perdendo o controle dos fundamentos econômicos, disse hoje (23) o ministro da Economia Paulo Guedes. Em evento promovido pela Associação Brasileira da Propriedade Industrial (ABPI), o ministro declarou que a economia está crescendo e o déficit das contas públicas está caindo.
“Não há o menor fundamento, do ponto de vista estritamente econômico, para dizer que o Brasil está perdendo o controle. É exatamente o contrário: o Brasil atravessou a maior crise fiscal, a maior depressão de tempos modernos e se recuperou em tempo recorde”, afirmou.
Segundo Guedes, “os fatos e os fundamentos” fiscais mostram que o governo “segue fazendo o trabalho certo”. O ministro repetiu as previsões oficiais que indicam queda no déficit primário – resultado negativo nas contas do governo sem os juros da dívida pública.
“Na verdade, os fundamentos continuam indicando que estamos na direção certa. Fomos a 10,5% do PIB [Produto Interno Bruto] de déficit, neste ano já caímos para 1% e a previsão é de que ano que vem seja 0,3%. Ou seja, praticamente acabou o déficit”, declarou..
Moderação
Na avaliação do ministro, a economia brasileira estava “decolando” em 2021, em meio à recuperação da fase mais aguda das medidas de distanciamento social impostas pela pandemia de covid-19. No entanto, o que ele classificou de “antecipação” da disputa eleitoral em 2022 está prejudicando as expectativas.
“Estávamos realmente decolando e, agora, há uma espécie de antecipação das eleições, que, evidentemente, tem impacto sobre as expectativas. Essa antecipação naturalmente prejudica. Causa muito barulho”, reclamou o ministro.
Guedes pediu moderação dos agentes políticos para garantir a recuperação da economia e reafirmou a confiança nas instituições, citando a Presidência da República, o Supremo Tribunal Federal (STF), a Câmara dos Deputados e o Senado. “Com confiança na democracia brasileira e principalmente nas instituições, esperamos que os excessos que sejam cometidos de uma parte ou de outra, de atores específicos, sejam moderados”, acrescentou.
Sondagens apontam para confiança elevada de todos os setores e melhora no ambiente de negócios após a 2ª onda da covid-19
Após atingir marcas negativas com o agravamento da pandemia do novo coronavírus, a economia brasileira já vive um processo consolidado de recuperação.
A melhora do ambiente de negócios é guiada pelo avanço da vacinação, que neste sábado (17) completa 6 meses de início, e pode ser comprovada pelos indicadores que medem as expectativas de setores, empresários e consumidores.
De acordo com dados da FGV (Fundação Getulio Vargas), da CNC (Confederação Nacional da Indústria) e da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo), o aumento da confiança manteve o processo de recuperação após a segunda onda da covid-19 no Brasil e já aparece acima do patamar pré-pandemia.
O economista Roberto Dumas, do Insper, confirma a expectativa mais otimista da economia, mais alerta que ela ainda é cautelosa.
“Alguns setores cresceram bastante, como a venda de eletrodoméstico, móveis e imóveis, porque o home office ajudou muito. […] Mas não é isso que mexe com a economia do Brasil”, aponta ele ao sinalizar a retomada dos serviços como a mais aguardada para confirmar o processo de recuperação.
Em junho, o principal destaque entre as sondagens da FGV partiu justamente do setor de serviços, cuja confiança avançou aos 93,8 pontos e atingiu maior patamar desde fevereiro de 2020, último mês sem os efeitos da pandemia do novo coronavírus na economia.
Com a movimentação recente, a confiança do setor de serviços se aproximou das melhoras apresentadas pelo comércio (95,9 pontos) e pela construção (92,4 pontos), áreas menos afetadas pela segunda onda da covid-19 no Brasil.
Para Dumas, o avanço da vacinação até a imunidade de rebando ainda é “absolutamente crucial” para a ascensão do segmento com a volta dos serviços prestados às famílias, como o turismo. “Serviços é o que mais emprega. Voltando, o nível de emprego melhora”, pontua ele.
Indústria
Índices da FGV mostram retomada da confiança
Na indústria, a situação é mais confortável, A confiança do setor foi a primeira a recuperar o nível pré-pandemia, já em agosto do ano passado, e atingiu seu pico em dezembro, quando flertou com os 115 pontos, maior patamar em 10 anos. Atualmente, o índice figura aos 107,6 pontos.
O dado também é mostrado pela CNI, que aponta para o crescimento das expectativas em 29 dos 30 setores industriais em junho. O segundo avanço consecutivo disseminado da confiança do setor foi guiado pelos segmentos de máquinas e materiais elétricos (+7,9 pontos); móveis (+6,6); e produtos de madeira (+6,4).
Claudia Perdigão, economista do FGV/Ibre, avalia que a saída mais veloz da indústria do fundo do poço aconteceu porque a pandemia estabeleceu uma “reconfiguração do consumo” e limitou o acesso da população aos serviços.
“Boa parte dos recursos que seriam destinados para restaurantes, shoppings e cinemas foi direcionado para o consumo de bens”, diz Cláudia. Ele vê também a contribuição do auxílio emergencial para o setor com a busca maior por alimentos.
A economista da FGV explica que a desaceleração da confiança industrial nos primeiros meses de 2021 passa pela discussão sobre a retomada do auxílio emergencial, mas avalia que o ramo também será beneficiado pelo avanço da imunização, apesar do ritmo inferior ao planejado para o setor de serviços.
Ainda que a confiança empresarial e dos setores esteja se reerguendo, a recuperação ainda não chegou às famílias, que seguem um pouco mais cautelosas e não segue a melhora acelerada do comércio e dos serviços, indica a FGV.
Dados mostram que o ICC (Índice de Confiança do Consumidor) alcançou os 80,9 pontos no mês passado, mas ainda segue distante dos mais de 90 pontos atingidos antes da crise.
Pela primeira vez em um ano, a melhora do índice ocorre com o avanço da intenção de compras de bens duráveis, o que pode estar relacionado com o maior otimismo em relação ao mercado de trabalho nos próximos meses.
Conforme os dados coletados em junho, diferença entre os níveis de confiança das famílias de renda mais alta (88,8 pontos) e de renda mais baixa (72,4 pontos) aumentou após a pandemia. Trata-se da maior diferença entre ricos e pobre desde setembro de 2009.
Ao lado de Guedes, presidente falou a investidores estrangeiros na manhã desta terça por meio de videoconferência
O presidente Jair Bolsonaro afirmou na manhã desta terça-feira (26) que seu governo vai respeitar o teto de despesas e descartou a prorrogação do auxílio emergencial.
Em seu discurso, feito prioritariamente a investidores estrangeiros, Bolsonaro também prometeu acelerar as privatizações, sem citar quais seriam as primeiras da lista, e disse que o ambiente para se colocar dinheiro no país será bastante favorável em 2021.
Ele também declarou que a entrada na OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) é prioridade da política externa do governo, assim como as reformas fiscal, tributária e administrativa.
O presidente afirmou ainda que o Brasil já é o sexto país que mais vacina no mundo contra a covid-19 e que logo será o primeiro.
Depois de Bolsonaro, foi a vez de Guedes falar. Ele voltou a dizer que a economia brasileira surpreende o mundo e que a gestão atual está preparara para novos aumentos de casos de covid.
O ministro da Economia afirmou que já se vê que o número de mortes diárias na pandemia caiu nos últimos dias. Ele citou a queda de óbitos de mais de mil da semana passada para os 600 verificados domingo (24) e segunda-feira (25), dias que, desde o início da pandemia, mostram queda por causa da redução de registros no fim de semana.
O ministro disse que o novo presidente da Câmara, que será eleito em 1º de fevereiro, deve destravar a pauta das reformas defendidas pela equipe econômica.
De acordo com o ministro, em vez de pagar o benefício, o governo pode adotar o protocolo da crise, congelando gastos e aumentos de salários durante o avanço da doença. “É um caso agudo de calamidade pública.”
Guedes declarou também que pedidos de impeachment contra o presidente são tentativas de descredenciar as eleições e partem de grupos que perderam nas urnas.