Médico do Marajó é alvo da 5ª denúncia: “me cortava como se cortasse um churrasco”, diz vítima

A redação recebeu o relato da 5ª denunciante que registou queixa oficialmente, junto ao Conselho Regional de Medicina do Pará (CRM-PA), contra o médico Celso Luiz Cardoso Lobato, por suposta violência praticada no Hospital Municipal de São Sebastião da Boa Vista, no arquipélago do Marajó. A vítima, que terá a identidade preservada nesta reportagem, diz que o médico estava bêbado quando a operou por problemas no apêndice e, desde então, sofre com as sequelas do procedimento.

A vítima conta que, desde o dia 3 de fevereiro deste ano, foi de maneira recorrente ao Hospital Municipal de São Sebastião da Boa Vista devido a fortes dores à direita e abaixo do umbigo. No primeiro contato com o médico Celso Lobato, que teria sido no dia 4 de fevereiro, a paciente relata que ele estava supostamente bêbado:

“Eu senti o cheiro [de álcool] no bafo dele quando ele se aproximou de mim. Eu gritava de dor, me tremia, não aguentava mais tanto tempo sofrendo assim. Precisava de duas pessoas me segurando, pois os remédios já não faziam efeito. Fui avaliada pelo médico Celso Lobato e senti muita dor no exame de toque”.

No local, a paciente recebeu a informação, por parte do próprio médico, de que precisava operar o apêndice com urgência, no entanto, mais tarde, Celso Lobato afirmou que não ia mais fazer a cirurgia “porque no exame de sangue não indicava apendicite”.

A vítima só foi operada na quarta-feira, dia 7 de fevereiro, depois de fazer mais um exame. Ela relata as violências sofridas durante o procedimento e que o médico estaria bêbado outra vez:

“Não permitiram que meu marido entrasse na sala de cirurgia, mesmo ele insistindo que queria entrar. Durante a cirurgia eu ouvi ele [Celso Lobato] dizer o seguinte: ‘É, o pessoal do hospital deveria ter me ouvido. Se eu tivesse operado ela no domingo, eu a tinha salvado. Agora não tem nada que eu possa fazer, porque nem transferir não dá porque já tá aberto’. Quando ouvi isso eu chorei muito mas me mantive calada”, diz a vítima.

“Eu estava consciente durante toda a cirurgia e senti muitas dores. Pedi muito para que Deus me salvasse. Sentia muita dor na região abdominal e perguntei se era normal sentir dor e eles responderam que sim. Ouvi outras conversas que também me deixaram nervosa, como marcar saídas, encomendar lanches… Ele me cortava como se estivesse cortando um churrasco, falando [com os enfermeiros] do que eles iam comer, do que eles iam beber… Ele estava tão ressacado que ele saiu da cirurgia e se sentou, os enfermeiros que finalizaram [o procedimento]”.

A paciente relata que, depois da cirurgia passou dois meses e meio em tratamento em São Sebastião da Boa Vista, porém, por meio particular, em casa, uma vez que a cirurgia infeccionou. “Contratei uma técnica em Enfermagem para me acompanhar. Hoje, faço tratamento particular periodicamente em Belém. Minhas atividades profissionais ficaram prejudicadas, tenho dificuldades para dormir, entre outras limitações que me afetam muito”.

A redação integrada de O Liberal solicitou um novo posicionamento do CRM-PA sobre o caso nesta terça-feira, 2, porém, o órgão informou que só poderá responder na quarta, 3.

A reportagem também entra em contato com o médico para solicitar um posicionamento, mas, até o momento, não houve retorno.

Médico já não trabalha no Hospital Municipal

No dia 20 de junho, a prefeitura de São Sebastião da Boa Vista informou à redação integrada de O Liberal que o médico encontrava-se afastado de suas funções no hospital municipal, não por causa das denúncias de violência obstétrica – as quais a prefeitura dizia desconhecer, mas sim por “outras razões administrativas”. No entanto, em entrevista a O Liberal no dia 21, o diretor do hospital municipal de São Sebastião da Boa Vista, Elizeu Gê Correa Júnior, afirmou que o médico Celso Lobato não fazia mais parte do quadro de funcionários do referido hospital desde o fim de maio.

Em nova nota, a prefeitura do município admitiu que Celso Lobato não prestava mais serviços ao hospital municipal. Confira a nota na íntegra:

“Quanto aos questionamentos formulados na data de hoje, 21/06/2024, reafirmamos que o referido profissional já foi afastado do quadro e não presta mais serviços para o município, tal afastamento se deu anteriormente a veiculação de tais denúncias (violência obstétrica), conforme informado pelo Diretor do Hospital Municipal, denúncias essas as quais, reitera-se, a Administração municipal até o momento não recebeu, quer por quaisquer usuários do hospital municipal ou pelo próprio CRM. Quanto ao questionamento ao que possa acontecer ao referido médico, o município não pode tecer conjecturações acerca de procedimentos cujos detalhes não tem conhecimento e que estão sendo apurados por órgão competente. Por fim reiteramos que tão logo seja notificado pelo CRM o município dispensará todos os esforços para que as situações tenham os devidos esclarecimentos e respostas que a sociedade reclama”.

A redação solicitou nova nota à Prefeitura de São Sebastião da Boa Vista para saber se agora a administração já tem conhecimento das denúncias registradas pelas vítimas junto ao CRM e aguarda retorno.

Source: O Liberal
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