Especialista explica o que são e como se formam os ‘meteotsunamis’ que atingiram SC

(CRÉDITO: GABRIEL ZAPPAROLLI / REPRODUÇÃO METSUL)

Marégrafo de Imbituba registrou quatro ondas que duraram entre 14 e 16 minutos cada

Carlos Eduardo Salles de Araujo, oceanógrafo e pesquisador da Epagri/Ciram relata que o evento foi identificado pelos marégrafos da Epagri em Imbituba e Laguna. Os equipamentos registraram quatro ondas que duraram entre 14 e 16 minutos cada. Uma onda normal costuma durar cerca de 15 segundos, o que resulta numa média de quatro ondas por minuto.

“Quando acontece uma onda que dura em torno de 15 minutos, significa que ela reúne o volume de água que seria acumulado por 60 ondas”, explica o pesquisador. “Uma onda normal, seria uma locomotiva chegando à praia. Uma onda de 15 minutos seria uma locomotiva e outros 59 vagões”, ilustra Carlos Eduardo.

Ele diz ainda que estas ondas são longas, mas não altas, ou seja, não formam o cenário que leigos esperariam, de ver um vagalhão de água se aproximando da faixa de areia. Portanto, um observador da praia não consegue perceber o risco, pois ele não é evidente visualmente.

Duas séries, com duas ondas cada

O marégrafo de Imbituba registrou duas séries de ondas, com duas ondas cada. Esse equipamento está localizado no Porto de Imbituba, cerca de 30km ao norte de Laguna. Como ele faz registros a cada minuto, permitiu ao pesquisador detalhar o fenômeno. 

“Na primeira série temos uma onda com período de 14 minutos (entre 16:38h e 16:52h) e na sequência outra com período de 16 minutos (entre 16:52h e 17:08h). Na segunda série temos duas ondas com período de 14 minutos: a primeira registrada entre 17:19h e 17:33h e a segunda registrada entre 17:33h e 17:47h”, enumera o pesquisador.

O marégrafo de Laguna é o mais próximo da praia do Cardoso, localizado na delegacia da Capitania dos Portos, no interior da Lagoa do Imaruí. Ele mede as condições de mar a cada 5 minutos, o que impede o detalhamento das características do meteotsunami. Este equipamento registrou duas cristas de ondas, ocorridas às 16:35h e às 17:10h.

Carlos Eduardo explica que o fenômeno do dia 11 foi provocado por células de tempestade alinhadas, conhecidas como linhas de instabilidade, que ao se propagarem geraram pulsos de pressão e fortes rajadas de vento na atmosfera. Os pulsos de pressão são como “pancadas” que criam ondulações na superfície do mar e, quando essas ondulações oceânicas se deslocam com velocidade e direção próximas às da linha de instabilidade atmosférica, as ondas do mar são amplificadas, aumentando sua altura. Esse mecanismo físico é conhecido como ressonância, gerando os meteotsunamis.

Registros em Santa Catarina

Embora incomum, esse fenômeno foi observado e descrito em Santa Catarina algumas vezes: em 19 de novembro de 2009 na praia do Pântano do Sul, em Florianópolis; no dia 16 de outubro de 2016 na praia do Morro dos Conventos, em Araranguá; em 29 de outubro de 2019 na praia da Guarda do Embaú, em Palhoça; e agora na praia do Cardoso, em Laguna. O evento de 2019, na Guarda do Embaú, foi captado pelo marégrafo de Imbituba, que registrou uma série com duas ondas de 14 e 16 minutos cada.

Os registros recentes chegaram ao conhecimento do público através da imprensa, contudo, é possível que outros tenham ocorrido sem serem percebidos, seja porque a praia estava vazia no momento, ou porque aconteceu durante a madrugada, por exemplo. Para investigar esse casos, o pesquisador da Epagri pretende desenvolver um programa de computador capaz de rastrear a ocorrência de ondas longas nos registros históricos do marégrafo de Imbituba.

Segundo Carlos Eduardo, não há tecnologia no mundo capaz de prever a ocorrência de meteotsunamis. “Contudo, o registro destas ocorrência por marégrafos permite aos pesquisadores conhecer cada vez mais esse tipo de fenômeno e quem sabe, no futuro, desenvolver um sistema de previsão”, pondera ele.

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