As pessoas essencialmente boas, quando dizem coisas más, é porque “cometeram um deslize”, “uma gafe”, ou falaram “de maneira impensada”.
A fala saiu como um peido irreprimível, sem querer.
Já as pessoas essencialmente más, quando dizem coisas más, estão essencialmente expressando o que vai em seus corações. A fala é de caso pensado, só confirmando o que todos já sabem.
Se um tipo como Bolsonaro, ou qualquer bolsonarista notório, tivesse sugerido um boicote a negócio de pretos ou indígenas, isso renderia horas de debates na Globo News e um inquérito aberto ex-oficio no STF.
No entanto, como Genoíno é uma pessoa essencialmente boa (segundo Cantanhede, sua pena no Mensalão foi a mais injusta de todas), sua fala foi “impensada”.
Quem me dera ser protegido de meus próprios erros dessa maneira.
O editorial do Estadão foi menos condescendente. Descartou a hipótese de “fala impensada”, uma vez que Genoíno, até o momento, não se retratou.
O editorial foi além, dando ao boi o nome correto: antissemitismo.
Não, Genoíno não falou de maneira “impensada”. Ele somente verbalizou o que Lula, os petistas e a esquerda em geral pensam (quem tem dúvida, é só dar uma passeada nos perfis à sinistra do Xwitter): sob a capa de antissionismo (que é basicamente negar aos judeus o seu direito à autodeterminação), pulsa um antissemitismo secular que, em um mundo dividido entre opressores e oprimidos, identifica os judeus com o lado opressor de uma maneira muito mais ampla do que as escaramuças em Gaza fazem supor.
A menção às “empresas de judeus” por parte de Genoíno não foi extemporânea; por trás dessa frase emerge a imagem do judeu rico, poderoso, que move os cordões do mundo, e contra os quais se insurge o proletariado.
Os judeus estão do lado errado da História, e por isso merecem ser boicotados.