© AP Photo / Vatican Media
Após ofender o Papa Francisco durante a campanha eleitoral, Javier Milei agora quer se aproximar do sumo pontífice. Os dois se encontraram neste domingo (11) no Vaticano, e Milei já convidou Jorge Mario Bergoglio para visitar a Argentina. O resultado de tudo isso, dizem analistas ouvidos pela Sputnik Brasil, pode não ser o que Milei espera.
O primeiro encontro dos dois argentinos se deu de maneira breve durante a cerimônia de canonização da primeira santa argentina, María Antonia de Paz y Figueroa, também conhecida como Mama Antula (1730–1799).
Depois, nesta segunda-feira (12), ambos os líderes de Estado tiveram uma reunião privada. Como já estava previsto, Milei convidou o papa a visitar a Argentina no segundo semestre deste ano.
Uma possível visita de Jorge Mario Bergoglio à Argentina, que não visita desde que foi eleito líder da Santa Sé, em 2013, seria um grande evento, aumentado pelo alto percentual de católicos do país.

O que Milei quer com o papa?

No passado, Milei foi autor de ofensas contra o papa, acusando o líder da Igreja Católica de ser “o representante do mal na Terra” e “um imbecil que defende a justiça social”, lembra Vitor de Pieri, professor do Instituto de Geografia (Igeog) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
Depois, apesar de ter se desculpado com o sumo pontífice e tê-lo chamado de “o argentino mais importante da história”, Milei desperta suspeitas quanto a esse movimento de reconciliação.
“Essa aproximação com o papa é para tentar mudar um pouco a imagem dele” perante seu eleitorado, afirma o especialista, que diz que o presidente argentino já estaria na Itália para um encontro com empresários.
“Ele quer usar a imagem do papa para o próprio benefício. O papa é argentino e mais de 70% dos argentinos são católicos”, explica.
“Ele está fazendo, digamos, um dever de casa da política básica em um país católico”, descreve.
Para Simpson, a população argentina está mais preocupada com a situação interna do país, às voltas com a dificuldade da estabilização econômica e a implementação da Lei Omnibus, que não passou no Congresso, do que com as relações Milei-Francisco.
Ambos os especialistas apontam ainda que a visita de Milei ao Vaticano foi esvaziada de significados devido às circunstâncias em que ocorreu. De Pieri relembra que Milei tem outros compromissos políticos em Roma.
Já Simpson recorda que anteriormente Milei estava em Israel com seu rabino pessoal, Shimon Axel Wahnish, a quem nomeou embaixador no país. O presidente argentino ainda causou polêmica ao anunciar a mudança da embaixada de Tel Aviv para Jerusalém.

Papa Francisco tem visões opostas às de Javier Milei

Mais do que não surtir efeitos, a tentativa de aproximação com o papa pode acabar tendo o efeito contrário ao que Milei espera, afirmam os analistas.
Entre os pontos de atrito que Milei e Francisco podem ter está a proximidade que o presidente argentino tem das igrejas evangélicas, aponta Simpson. Recentemente Milei retirou fundos de ajuda alimentar de movimentos sociais ligados à Igreja Católica e os repassou para a administração de uma organização evangélica.
Essa atuação social que a Igreja Católica tem na Argentina é outro ponto que distancia os dois líderes. Vitor de Pieri lembra que Francisco sempre defendeu ideias contrárias às de Milei, tendo maior simpatia pelos movimentos sociais e pelos sindicatos.
“O papa é muito atrelado aos movimentos de esquerda argentino. Ele atuou na pastoral de base, ele tem um histórico de ações beneficentes. Ele é franciscano.”
Ainda assim, o papa Francisco tem uma “clara simpatia pelo peronismo”, diz Ximena. Para De Pieri, em caso de uma possível visita do pontífice à Argentina, essa proximidade de Bergoglio com políticos de oposição pode acabar se sobressaindo.
“Acho que quem pode acabar explorando mais isso é a oposição ao Milei”, destaca o professor da UERJ. “O papa tem muita proximidade com o Juan Grabois, que concorreu com o Sergio Massa nas prévias do União pela Pátria.”
Apesar de Francisco ter tantos vínculos, Ximena lembra que ele não visita a Argentina desde 2013. “Não sei se ele vai aceitar, e se aceitar, acho que buscaria uma forma de sinalizar que a visita não significa apoio político.”
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