País perde quase 7 milhões de leitores em quatro anos, segundo a 6ª. edição da Retratos da Leitura no Brasil, única pesquisa nacional que avalia o comportamento leitor dos brasileiros; queda aparece em todas as classes, faixas etárias e escolaridade
A edição 2024 da mais completa e aprofundada pesquisa sobre os hábitos de leitura do brasileiro foi lançada nesta terça (19) com a informação de que nos últimos quatro anos houve uma redução de 6,7 milhões de leitores no país. Pela primeira vez na série histórica da pesquisa, a proporção de não-leitores é maior do que a de leitores na população brasileira: 53% das pessoas não leram nem parte de um livro – impresso ou digital – de qualquer gênero, incluindo didáticos, bíblia e religiosos, nos três meses anteriores à pesquisa.
Se considerarmos somente livros inteiros lidos, no período de três meses anteriores à pesquisa, esse percentual é ainda menor, de 27% dos brasileiros.
A redução no percentual de leitores identificada na série histórica da pesquisa se deu em todos os perfis e segmentos pesquisados: por faixa etária, gênero, escolaridade, estudantes e não estudantes, por classe, renda e entre estudantes e não estudantes.
Considerando a faixa etária, apenas entre a população com 11 e 13 anos e com 70 anos ou mais não foi registrada redução no percentual de leitores. A faixa etária de 11 a 13 anos é a que apresenta o maior percentual de leitores – no entanto, vale ressaltar que a pesquisa também considera a leitura de livros didáticos como parte da investigação.
O estudo de 2024 permite a leitura dos resultados por unidades da federação e possibilita comparar os resultados de 2024 com os de 2019 e do restante da série histórica da pesquisa, por região.
Santa Catarina, com 64% de leitores na população, apareceu como o estado com maior proporção de leitores. Paraná e Ceará aparecem em seguida, com 54%, números que os colocam relativamente acima do percentual de leitores no Brasil (47%).
A Região Sul é a única das cinco do país onde ainda há uma maioria de leitores na população: atualmente, 53% dos moradores desses três estados leram total ou parcialmente pelo menos um livro nos três meses que antecederam a pesquisa. Contudo, o dado é cinco pontos percentuais abaixo do verificado na edição anterior da pesquisa, quando a mesma região registrou 58% de leitores.
No recorte por faixa etária, a leitura motivada pelo gosto diminui quanto maior a faixa etária dos indivíduos. Entre as crianças de 5 a 10 anos, 38% dizem ler por esse motivo. Durante a adolescência e até os 24 anos, esse índice varia de 31% a 34%.
Nas faixas etárias seguintes identificamos redução na menção a essa motivação: 21% entre 25 e 29 anos, 19% para quem está na faixa dos 30, e segue estável em 17% para todas as faixas etárias acima de 40 anos.
Quando perguntados sobre os lugares onde costumam ler livros, a grande maioria cita a própria casa (85%). “Mas é preocupante notar como as salas de aula estão deixando de ser um lugar de leitura, conforme a série histórica demonstra”, comenta a coordenadora da pesquisa, Zoara Failla.
Em 2007, 35% citaram esse espaço escolar. Em 2011, foram 33%. Na edição seguinte, de 2015, as menções apareceram em 25% dos entrevistados. Em 2019, foram 23%. E agora foi de 19%, o menor índice já registrado.
Pesquisa foi realizada em 208 municípios
Para possibilitar a construção e manutenção da série histórica do estudo – crucial para avaliação, monitoramento e orientação de políticas públicas – a metodologia da pesquisa segue orientação do CERLALC (Centro Regional para o Fomento do Livro na América Latina e o Caribe) e se mantém desde 2007. Para identificar as mudanças que acontecem no cenário da leitura, em especial, impactado pelos novos suportes e meios digitais de acesso e produção de conteúdo, o Instituto Pró-Livro busca a cada edição a consultoria de especialistas para a formulação de questões voltadas a um diagnóstico mais preciso das mudanças que impactam o comportamento leitor. “A pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, desenvolvida ao longo desses 18 anos pelo IPL, tornou-se muito mais do que um levantamento de dados; ela é um verdadeiro farol para compreendermos os desafios que enfrentamos na promoção da leitura”, comenta Sevani Matos, presidente do IPL. É um trabalho que reflete o compromisso com a transformação cultural do Brasil”, completa Sevani Matos.
Como parte deste diagnóstico, a edição atual da pesquisa também contou com a reformulação de perguntas e de itens de respostas, para captar as mudanças e facilitar a compreensão do entrevistado. A coleta de dados foi realizada pelo Ipec, por meio de entrevistas domiciliares face a face, com registro das respostas em tablets, e aconteceu entre 30 de abril de 2024 e 31 de julho de 2024.
De modo geral, a Retratos da Leitura no Brasil apresenta um raio-X da relação do brasileiro com o livro, aferindo informações sobre hábitos e motivações para a leitura; representações e valorização da leitura; leitura de literatura; preferências sobre livros, gêneros e autores; a leitura em diferentes suportes; o acesso a livros, em papel e digital, envolvendo bibliotecas e os diferentes canais de distribuição e venda; o papel das escolas, das famílias e das bibliotecas na formação de leitores e no desenvolvimento da leitura no Brasil; práticas leitoras e acesso em meio digital e fragmentado, em diferentes materiais e ambientes; a formação de leitores e a influência para o consumo ou acesso aos livros.
O objetivo da pesquisa é conhecer o comportamento leitor do brasileiro, a partir dos cinco anos de idade, medindo a intensidade, forma, limitações, motivação, condições de acesso ao livro – impresso e digital – pela população, orientado para contribuir com as políticas públicas e expandir o público leitor. “Este retrato detalhado tem sido essencial para orientar políticas públicas e inspirar ações concretas de incentivo à leitura e ao acesso ao livro, envolvendo tanto a sociedade civil quanto os governos” , afirma a presidente do Instituto Pró-Livro.
Realizada pelo Instituto Pró-Livro (IPL), graças ao incentivo fiscal, pela Lei Rouanet, e patrocinada pelo Itaú Unibanco, essa edição contou com parceria da Fundação Itaú e com apoio da Associação Brasileira de Livros e Conteúdos Educacionais (Abrelivros), da Câmara Brasileira do Livro (CBL) e do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL). O levantamento foi feito pelo instituto Ipec – Inteligência em Pesquisa e Consultoria.
Nesta 6ª edição, a amostra foi de 5.504 entrevistados em 208 municípios. Realizado desde 2007, o levantamento deste ano trouxe novos indicadores. Pela primeira vez foram mensurados o número de livros infantis nas residências e os hábitos de leitura dos pais sob a ótica das crianças entre 5 e 13 anos. Outra investigação importante, e que tem sido objeto de estudo de especialistas, é como os leitores avaliam a leitura no suporte papel e no digital: qual é mais efetiva para a atenção e a compreensão?
Sobre o Instituto Pró-Livro: O IPL (www.prolivro.org.br) é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), sem fins lucrativos, criada e mantida pelas entidades do livro – Abrelivros, CBL e SNEL – com a missão de transformar o Brasil em um país de leitores. Tem como objetivo promover pesquisas e ações de fomento à leitura. Realiza, periodicamente, a pesquisa Retratos da leitura no Brasil, maior e mais completo estudo sobre o comportamento do leitor brasileiro, a fim de avaliar impactos e orientar ações e políticas públicas em relação ao livro e à leitura, visando, assim, melhorar os indicadores de leitura e o acesso ao livro.
Sobre a Fundação Itaú: Com o intuito de inspirar e criar condições para promover o desenvolvimento de cada brasileiro como cidadão capaz de transformar a sociedade, a Fundação Itaú foi criada em 2019. A instituição dedica programas, ações e
articulação com diferentes setores da sociedade para atender às urgências do Brasil contemporâneo. Estruturada em três vertentes – Itaú Cultural, Itaú Educação e Trabalho e Itaú Social –, a Fundação garante a continuidade do trabalho desenvolvido ao longo de décadas nos campos da educação e da cultura, a expansão desse legado e uma governança ainda mais robusta – sem perder a legitimidade e a autonomia que sempre marcaram suas iniciativas. Saiba mais em www.fundacaoitau.org.br.
da Assessoria