A sonda solar Parker, da Nasa, está prestes a fazer um sobrevoo recorde, chegando a 6,1 milhões de quilômetros da superfície do Sol, a maior aproximação da humanidade a uma estrela. O evento está previsto para ocorrer por volta das 8h50 desta terça-feira (24).
A nave espacial não tripulada voará a 692.000 quilômetros por hora, rápido o suficiente para ir de Washington a Tóquio em menos de um minuto, de acordo com a Nasa. O sobrevoo tornará a sonda o objeto feito pelo homem mais rápido da história, segundo informações compartilhadas pela agência espacial em 17 de dezembro durante uma apresentação do Nasa Science Live no YouTube.
A missão vem se preparando para esse marco histórico desde seu lançamento em 12 de agosto de 2018 — um evento que contou com a presença do homônimo da sonda, Eugene Parker, um astrofísico pioneiro no campo de pesquisa solar da heliofísica.
Parker foi a primeira pessoa viva a ter uma nave espacial com seu nome. O astrofísico, cuja pesquisa revolucionou a compreensão da humanidade sobre o Sol e o espaço interplanetário, morreu aos 94 anos em março de 2022. Mas ele ainda foi capaz de testemunhar como a nave espacial poderia ajudar a resolver mistérios sobre o Sol mais de 65 anos após a missão ter sido originalmente idealizada.
A sonda se tornou a primeira espaçonave a “tocar o Sol” ao voar com sucesso próxima à coroa solar, ou atmosfera superior, para coletar amostras de partículas e dos campos magnéticos da nossa estrela em dezembro de 2021.
Nos últimos seis anos da missão de sete anos da nave espacial, a sonda solar Parker coletou dados para esclarecer cientistas sobre alguns dos maiores mistérios do Sol.
Heliofísicos há muito se perguntam como o vento solar — um fluxo constante de partículas liberadas pelo Sol — é gerado, bem como por que a coroa solar é muito mais quente do que sua superfície.
Os cientistas também querem entender como são estruturados as ejeções de massa coronal, ou grandes nuvens de gás ionizado chamadas plasma, e os campos magnéticos que irrompem da atmosfera externa do Sol.
Quando essas ejeções são direcionadas à Terra, elas podem causar tempestades geomagnéticas ou grandes perturbações no campo magnético do planeta, que podem afetar satélites, bem como a infraestrutura de energia e comunicação na Terra.
Agora, chegou a hora dos últimos e mais próximos sobrevoos de Parker, que podem completar as respostas para essas perguntas persistentes e revelar novos mistérios ao explorar territórios solares desconhecidos.
“A sonda solar Parker está mudando o campo da heliofísica”, disse Helene Winters, gerente de projeto da sonda no laboratório de física aplicada da Universidade Johns Hopkins.
“Após anos desafiando o calor e a poeira do sistema solar interno, recebendo explosões de energia solar e radiação que nenhuma nave espacial jamais viu, a sonda solar Parker continua a prosperar.”
Um sobrevoo incrivelmente próximo de uma estrela flamejante
O sobrevoo de Parker por volta das 08h53 (horário de Brasília) na véspera de Natal será a primeira das três últimas maiores aproximações da espaçonave, com as outras duas previstas para ocorrer em 22 de março e 19 de junho.
A espaçonave estará tão perto que, se a distância entre a Terra e o Sol fosse o comprimento de um campo de futebol americano, a espaçonave estaria a cerca de 3,5 metros da end zone (linha final antes do fim do campo), de acordo com a Nasa.
Nessa proximidade, a sonda será capaz de voar em plumas de plasma, bem como dentro de uma erupção solar, caso alguma seja liberada pelo Sol.
A espaçonave foi construída para suportar os extremos do Sol e já passou por ejeções de massa coronal no passado sem nenhum impacto no veículo, disse o cientista do projeto sonda solar Parker, Nour Rawafi.
A espaçonave é equipada com um escudo de espuma de carbono de 11,4 centímetros de espessura e 2,4 metros de largura. Na Terra, antes do lançamento, o escudo foi testado e é capaz de suportar temperaturas próximas a 1.400ºC. Na véspera de Natal, o escudo pode enfrentar temperaturas de até 980ºC.
Enquanto isso, o interior da nave espacial estará em uma temperatura ambiente confortável para que os sistemas eletrônicos e instrumentos científicos possam operar conforme o esperado. Um sistema de resfriamento exclusivo projetado pelo laboratório de física aplicada bombeia água pelos painéis solares da nave para mantê-los em uma temperatura constante de 160ºC, mesmo durante grandes aproximações do Sol.
A espaçonave realizará seu sobrevoo de forma autônoma porque o controle da missão estará fora de contato com a sonda devido à sua proximidade com o Sol.
Após a maior aproximação do Sol, prevista para ocorrer por volta da meia-noite de quinta (26) para sexta-feira (27), Parker enviará um sinal chamado tom de farol ao controle da missão para confirmar o sucesso do sobrevoo, disse Rawafi.
O tom do farol é um dado limitado que transmite o estado geral da espaçonave, disse ele.
O imenso conjunto de dados e imagens coletados durante o sobrevoo não estará disponível para o controle da missão até que Parker se afaste da órbita do Sol, o que ocorrerá cerca de três semanas depois, em meados de janeiro, explicou Rawafi.
Momento perfeito para ver um sol ativo
Pouco mais de um ano após o lançamento da sonda solar Parker, o Sol entrou em um novo ciclo solar. Agora, enquanto Parker faz sua maior aproximação, o Sol está experimentando o máximo solar, o que significa que a missão teve a chance de testemunhar a maior parte de um ciclo solar e as transições entre seus altos e baixos, disse C. Alex Young, diretor associado de ciência na Divisão de Ciência Heliofísica no Goddard Space Flight Center da Nasa em Greenbelt, Maryland.
Cientistas da Nasa, da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional e do Painel Internacional de Previsão do Ciclo Solar anunciaram em outubro que o Sol atingiu o máximo solar, ou o pico de atividade dentro de seu ciclo de 11 anos.
No pico do ciclo solar, os polos magnéticos do Sol invertem, fazendo com que o Sol passe de calmo para ativo. Especialistas rastreiam o aumento da atividade solar contando quantas manchas solares aparecem na superfície do Sol. E espera-se que o Sol permaneça ativo pelo próximo ano ou mais.
A atividade crescente do Sol se tornou óbvia este ano durante duas grandes exibições de auroras na Terra, em maio e outubro, quando ejeções de massa coronal liberadas pelo Sol foram direcionadas ao nosso planeta. As tempestades solares também são responsáveis ??por gerar auroras que dançam ao redor dos polos da Terra, conhecidas como luzes do norte, ou aurora boreal, e luzes do sul, ou aurora austral. Quando as partículas energizadas das ejeções de massa coronal atingem o campo magnético da Terra, elas interagem com gases da atmosfera para criar luz de cores diferentes no céu.
“Ambas as tempestades [em maio e outubro] fizeram com que auroras fossem visíveis até parte dos Estados Unidos”, disse Young. “Mas a tempestade de maio foi uma tempestade especialmente forte. Na verdade, achamos que pode ser um evento de 100 a, possivelmente, 500 anos, e isso causou auroras muito perto do equador, o que é extremamente inédito. Foi um evento mundial que milhões e, esperançosamente, bilhões de pessoas puderam ver, e pode não acontecer novamente.”
Os dados coletados pela sonda solar Parker podem permitir que os cientistas entendam melhor as tempestades solares e até mesmo como prevê-las, disse Young.
“O Sol é a única estrela que podemos ver em detalhes, mas podemos realmente ir até ele e medi-lo diretamente”, disse Young.
“É um laboratório em nosso sistema solar que nos permite aprender sobre todas as outras estrelas no universo e como todas essas estrelas interagem com os bilhões e bilhões de outros planetas que podem ou não ser como nossos próprios planetas em nosso sistema solar.”
Com isso em mente, Rawafi disse que espera que o Sol faça um show espetacular durante as aproximações da sonda, permitindo que os cientistas obtenham insights sobre a atividade do Sol.
“Sol, por favor, faça o seu melhor”, disse Rawafi. “Dê-nos o evento mais forte que você puder fazer: a sonda solar Parker pode lidar com isso.”
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