O blog apurou no início da semana que grampos ilegais teriam sido instalados no CPA, e que o sinal seria direcionado para ao prédio da Assembleia Legislativa. Isso teria ocorrido no início deste ano. Foi citado, ainda, que nos corredores do Legislativo já se falava sobre “o deputado do grampo”, mas em momento algum o material do blog tinha citado que o parlamentar seria o Delegado Camargo. Esse assunto circula na Casa de Leis há aproximadamente dois meses, mas agora aparentemente o tema o tema vazou, chegando ao interior, sendo postado em grupos do aplicativo WhatsApp.
A equipe do blog também tentou contato com a Presidência da Assembleia Legislativa na última segunda-feira (13) para apurar outro fato: no começo do ano um grampo foi encontrado em um gabinete, tendo sido descoberto por um servidor especializado na área de segurança. Uma “grampolândia” parecia ter sido instalada, e aparentemente o foco seria a Casa de Leis. O blog não obteve retorno sobre o pedido de informações.
Explica-se a razão de, nos corredores da Assembleia Legislativa, as suspeitas aparentemente recaírem sobre o deputado Delegado Camargo. O chefe de gabinete dele, em fevereiro e em março deste ano, era o delegado Julio Cesar de Souza Ferreira. A remuneração líquida era de mais de R$ 34 mil. Trata-se do delegado que foi afastado quando chegaram à imprensa áudios de um grupo da Polícia Civil. Vazamento mesmo.
Os áudios atribuídos ao delegado Julio Cesar, ex-chefe de gabinete de Delegado Camargo, são estarrecedores. Em um deles, é ministrada uma verdadeira aula de como grampear aparelho celular, em outro se fala com preocupação que a investigação sobre um determinado áudio comprometeria toda uma operação policial.
O blog apurou que o grupo teria adulterado áudio captado do sofisticado equipamento chamado de Guardião. Trata-se de um aparelho capaz de gravar mil conversas telefônicas simultaneamente. Houve matérias sobre isso. Veja a matéria e abaixo a degravação do áudio atribuído ao delegado Julio Cesar:
Reportagem mostra o áudio que vazou, atribuído ao delegado Julio Cesar, ex-chefe de gabinete de Delegado Camargo
“Meu irmão, é o seguinte pessoal, é uma merda muito grande, é uma bosta de elefante isso aí, é igual o negócio do Riozinho, entendeu?
E assim, não tem muito o que fazer agora, já foi, acabou. É orar para as coisas acontecerem, não ser tão prejudicial para a gente, tem vários cenários possíveis aí.
Eu posso fazer uma gradação aqui, do mais otimista ao mais pessimista. Eu prefiro começar pelo mais pessimista, porque eu gosto de saber o pior cenário possível para estar preparado para ele. Então eu vou falar para vocês qual é a minha visão do pior cenário possível para isso aí. O pior cenário possível é o seguinte, é perceberem o áudio, verificarem que é um erro que é muito grosseiro para uma equipe tão competente, portanto é doloso, não pode ter sido um mero erro.
Apesar de a gente alegar que está o resumo correto e que nós mandamos o áudio, que não foi o único elemento de convicção, o cenário mais pessimista é que isso, num contexto de Orcrim, que é uma unidade, que é o que a gente tanto afirmou e reafirmou e tentou convencer todo mundo que Orcrim é uma unidade, portanto o que é para um aproveita a todos, isso também vai valer o contrário.
Se é só para o Flávio, aproveita a todos, porque o Flávio é o integrante do governo, é onde prova o fato da Orcrim ser endógeno, é o Flávio. Então, qual que é o problema aí? Se os advogados e os demais investigados utilizam essa falha, certo? Porque o advogado do Flávio é o idiota do Rodrigo Nestor, mas vamos imaginar que os demais advogados, como o Bruno Valverde, como o Alan Monte, como os outros aí, utilizem essa falha para pedir a nulidade de todas as prorrogações.
E todos os momentos dentro dos autos em que surge esse áudio, porque em tese nós estamos induzindo um magistrado a erro sobre a existência de um Orcrim e isso muda tudo. Se isso acontecer, senhores, do dia que esse áudio foi juntado nos autos, da prorrogação que ele foi utilizado até hoje, inclusive a representação foi utilizada também como fundamento e, portanto, tem a questão da lei.”
Alguns trechos foram negritados pelo blog. O restante está em itálico. Aparentemente, neste áudio atribuído ao delegado Julio Cesar, ex-chefe de gabinete do deputado Delegado Camargo, estaria sendo confessado um crime.
O blog verificou com algumas fontes que a suspeita sobre quem seria o “deputado do grampo” recaiu sobre o deputado Delegado Camargo devido ao histórico de seu ex-chefe de gabinete. Foi apurado que teria havido uma confusão na Assembleia Legislativa com a descoberta do grampo no gabinete de um dos deputados. Nesse mesmo período, segundo circula nos bastidores políticos, teria sido encontrado o grampo no CPA, revelam as fontes do blog.
O delegado Julio Cesar foi exonerado do cargo de chefe de gabinete. O blog apurou que isso tranquilizou muitos deputados, devido aos boatos de que estariam sendo espionados de dentro do gabinete do “deputado do grampo”.
Acontece que na última semana a situação esquentou novamente, porque parlamentares descobriram que o deputado Delegado Camargo contratou a mulher do delegado Julio Cesar no cargo de assessor técnico. Renata Miranda de Lima tem vencimento básico de R$ 15 mil, adicionado a R$ 500,00 de indenizações e a mais R$ 500,00 de auxílio alimentação. Com R$ 3.875,83 de deduções obrigatórias, o vencimento líquido fica em 12.124,17.
Nos bastidores da Assembleia Legislativa, fontes do blog apuraram que teria havido irritação de muitos parlamentares, juntamente com a desconfiança de que a tal suposta arapongagem pudesse não ter parado.
Também voltou à tona um assunto antigo, da época em que o delegado Julio Cesar foi afastado devido ao vazamento dos áudios. Na ocasião, era dito que um grupo de delegados teria um plano para tomar o poder no Estado, usando para isso a estrutura da Polícia Civil.
O que circulava nos bastidores políticos é que o grupo de delegados estaria disposto até mesmo a forjar inquéritos e alterar provas para conseguir a prisão de prefeitos, incriminação de deputados e até implicar o governador e desembargadores, se fosse preciso, para ganhar visibilidade perante os eleitores.
Ainda de acordo com o que estava circulando, o objetivo seria conseguir notoriedade para alguns delegados, que se elegeriam deputado e prefeito, para assim chegar ao governo do estado. Os rumores de arapongagem trouxeram esse assunto de volta.
Se alguma coisa disso é verdade ou não, é o que está circulando nos bastidores do poder, e agora também em grupos de WhatsApp.
Inferno astral
O deputado Delegado Camargo estava conseguindo significativo espaço nos meios políticos, mas recentemente começou a ser taxado de ‘inimigo das forças de segurança’. Isso ocorreu no momento da polêmica em torno do aumento da alíquota do ICMS. O parlamentar explicou que não é nada disso, pois ele mesmo é um delegado de Polícia. Verdade. Não está na ativa, mas é.
Ele acaba ganhando muito mais do que um delegado de polícia. O vencimento bruto é de mais de R$ 85 mil, o que resulta em R$ 67.469,09 líquidos.
Aparentemente a declaração de que não é inimigo das forças de segurança não convenceu diversos policiais civis, pois Delegado Camargo foi vaiado durante a sessão na Assembleia Legislativa. Na ocasião as galerias da Assembleia Legislativa estavam lotadas por policiais militares, bombeiros militares, socioeducadores, policiais militares e principalmente, policiais civis.
No meio desse inferno astral, circula mais uma situação, que estaria deixando um ponto de interrogação. O deputado Delegado Camargo é um dos parlamentares mais brancos na Assembleia Legislativa. Apesar disso, ele se declarou “pardo” à Justiça Eleitoral. As imagens já estão circulando pelo aplicativo WhatsApp.