Meu encontro com Lula

Foi em 2001, e Lula, mais uma vez candidato à Presidência, desejava discutir economia com pessoas diferentes dos usuais intelectuais do PT.

Seu contador, Antoninho Trevisan, reuniu Walter Appel, Guilherme Leal, Luíz Cézar Fernandes e eu para compartilharmos nossa visão dos grandes problemas nacionais.

Guido Mantega estava acompanhando Lula.

Na minha vez de falar eu apontei o que achava era o problema mais urgente e importante.

Disse eu:

“O problema número um é o sistema de previdência por repartição, onde o Estado retira 28% dos salários dos trabalhadores jovens para pagar as aposentadorias da velha geração de funcionários públicos, professores de sociologia e idosos em geral.

Isso mantém os jovens eternamente  pobres, forçados a se endividar, enquanto o país fica sem recursos financeiros a longo prazo, ideais para o financiamento empresarial.

Se esses 28% não fossem gastos mas investidos para o futuro estaríamos hoje com 16 trilhões em fundos de pensão , o equivalente a 45 BNDES.

Se você não realizar imediatamente uma reforma no primeiro ano de governo, uma reforma conforme a Constituição manda no artigo 201 ‘observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial’ o  Brasil não crescerá nos próximos 30 anos.

Além disso, nossa produtividade permanecerá estagnada, nossos jovens continuarão pobres, e nossos juros reais permanecerão elevados.

Hoje, temos um sistema em que os jovens são escravizados pelos mais velhos, algo inaceitável no século 21.”

Era algo que eu já vinha escrevendo inclusive na Veja há 20 anos, portanto estava bem ao par do assunto.

Discutimos por cerca de 3 horas vários assuntos e, ao final, Lula agradeceu nossa contribuição e disse:

“Ainda bem que, segundo o Kanitz, eu já sou aposentado, pois isso significa que já garanti o meu.”

Não publiquei essa declaração porque foi dita em tom de brincadeira e o encontro era confidencial.

Mas não pude deixar de pensar que isso era típico do PT, e tudo o que eles defendiam e ainda defendem até hoje.

Direitos e mais direitos, direitos adquiridos em detrimento da nova geração, dos mais pobres, pois acima de R$ 7.000,00 por mês, aos ricos não incide INSS.

Lula tinha condições, com sua popularidade, de mudar o país, acabar com a escravidão dos jovens, reduzir a taxa média dos juros, fazer o país crescer com caixa e não dívidas, como fez, enquanto o problema estava em seu início, em 2002.

Hoje, a dívida da nova geração com a velha é de 136 trilhões de reais, o custo de uma transição para um regime de acumulação solidária.

O fato de que essa dívida agora é 80% impagável significa que idosos literalmente morrerão de fome, não poderão se aposentar e terão que competir com os jovens por empregos.

20 anos de governos do PT, onde esse problema foi deliberadamente escondido por economistas como Guido Mantega, que afirmou no encontro que “não havia déficits”, selaram nosso futuro, que será de um enorme conflito intergeracional.

Jovens recusando pagar o INSS e economistas achando outras formas de taxá-los.

Fico incrédulo como nossos intelectuais ignoraram esse problema , e o pouco apoio que tive nesses 50 anos.

Alertando quase todo ano  sobre esse problema desde 1983, sem um sinal nem da velha geração, nem da nova, como o MBL, condenados à pobreza por direitos supostamente adquiridos, mas não são .

Seremos uma nação de escravos, como de fato já somos.

Por Stephen Kanitz*

*Stephen Kanitz é Consultor de empresas e conferencista brasileiro, mestre em Administração de Empresas da Harvard Business School e bacharel em Contabilidade pela Universidade de São Paulo.

O conteúdo opinativo acima não reflete, necessariamente, a opinião do Portal Correio de Notícia e não tem responsabilidade legal pela “OPINIÃO” do autor. É de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna*

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