O drama vivido por um jornalista preso enquanto trabalhava no 08/01

Por Josinelio Muniz*

Era 15 horas do dia 08/01. Ao vivo pelas redes sociais William Ferreira, conhecido em Porto Velho como ‘homem do tempo’.

O apelido era parte do trabalho jornalístico de anos a fio.

Afinal, William Ferreira, não se prendia ao tempo ou condições para trazer informações, bastava ligar no número disponível nas redes sociais e em poucos minutos, seja de carro, moto ou bicicleta, o homem chegava. Era obcecado pela notícia. Durante todo o dia suas lives jornalísticas eram comum. Até que se tornou a principal fonte de notícias na cidade.

Os moradores de Porto Velho pelo menos um minuto no dia iam nas paginas do homem do tempo se atualizar.

Lógico, não seria diferente durante as manifestações na frente do QG.

De tempos em tempos, surgia William na tela do celular trazendo informações. Normal, por demais, vê-lo presente nos protestos, mas diferente dos outros, estava lá para informar.

Até que chegou o famoso dia 08/01.

Por coincidência, William Ferreira, estava em Brasília de férias, na casa dos familiares. Já que não estava a trabalho, naquele domingo foi em um clube de lazer. Porém, do local onde estava, viu a multidão caminhando em direção ao Congresso.

Obvio, qualquer repórter sabe que o impulso jornalístico saltaria.

William, viu um furo de reportagem. Imediatamente, pediu licença à família, se vestiu, ligou sua máquina de trabalho: o celular e linkou na live: Boa tarde Porto Velho estou ao vivo direto de Brasília.

Após saudações e o clima dramático o velho jargão: ninguém diz nada, ninguém faz nada. É uma vergonha.

Durante a live não se vê William criticando o governo atual, nem elogiando o antigo. Tudo que faz ali é mostrar o ocorrido.

As críticas dos seus lábios são contra o que seria pra ele, omissão do Exército. Repetia: as Forças Armadas poderiam ter sido clara com o povo e tê-los dispensados. Teria evitado esse problema.

William não quebrou vidraça, não jogou pedra, não feriu, apenas transmitiu a live como sempre fez na cidade. Ali, não era um manifestante da direita, mas um profissional da informação. Era simplesmente seu trabalho. Após a execução, retornou ao lazer da família.

Todavia, alguns minutos depois seu nome saiu na lista dos invasores. Prontamente, emitiu uma nota explicando: eu não participei do protesto, estou de férias com meus familiares. Fiz a live para mostrar a situação. Gente, tudo está na live. Disse ele.

Naquele momento, jamais alguém pensaria que pessoas seriam duramente punidas e presas. Ou seja, William, não precisava mentir. No início de fevereiro voltou pra casa acreditando que estava tudo bem, mas se enganou. No mesmo mês foi preso. Suas redes sociais, fechadas. Começavam as cenas que somente poderão ser contadas em um filme.

Foi um duro golpe.

No dia seguinte a prisão, não havia direitista ou esquerdista discutindo se Wiliam era culpado, todos sabiam que era inocente.

Os sites de notícias do estado traziam informações, contudo, não sabiam explicar o motivo da prisão.

Todos acreditavam numa soltura imediata, mas, talvez o fato de ser sargento aposentado o descredenciou ante o poder judiciário a sua faixa de jornalista reconhecido e em fevereiro desse ano, William completará um ano preso.

Num fato inédito, advogados de direita e esquerda se uniram, além do clamor social na cidade, mas não tiveram êxito. Nada, nem ninguém, consegue tirar o ‘homem do tempo’ da prisão.

A situação do jornalista se agravou.

Desolado, traumatizado e com sério quadro de depressão, para complicar, assíduo caso de próstata nível 5. Ou seja, risco de morte iminente. Câncer não espera. Mesmo com laudo, parecer médico, pedido da procuradoria, William não sai.

O ponto chegou a grau de complexidade que a OAB/RO emitiu nota afirmando que a prisão do jornalista viola preceito constitucional. O presidente da comissão da OAB/RO disse na nota que: a situação do jornalista é de doer o coração.

Pois é, logo William Ferreira. O homem que sempre estendeu a mão a quem dele precisou. O homem que ajudou a reconstruir casas, doou milhares de cestas básicas, tratou de muitos doentes, que deixou à família em casa para acompanhar necessitados, agora é vítima da injustiça.

E, ninguém faz nada. Ninguém diz nada. É uma vergonha.

Josinelio Muniz
Josinelio Muniz

 

*Josinelio é Formado em Teologia pela Faculdade Teológica Logos (FAETEL), matéria em que leciona na Comunidade Internacional da Paz – Porto Velho, RO. Bacharel em Direito pela (UNIRON) e Docente Superior pela (UNINTER).

 

 

 

 

*As opiniões expressas neste artigo é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Correio de Notícia não tem responsabilidade legal pela “OPINIÃO” que é exclusiva do autor.

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